No nosso organismo, 100 trilhões de bactérias de mais de 400 espécies diferentes vivem em um delicado balanço. O intestino é o órgão mais ativo do nosso organismo e abriga um ecossistema de bactérias que, quando em harmonia, resulta em um processo chave para manter-se o equilíbrio entre saúde e doença. A nossa flora intestinal tem funções importantes como a síntese de algumas vitaminas e a defesa do nosso organismo, pelo estímulo e maturação do sistema imunológico.

Quando a flora é abalada, nosso organismo fica sujeito à passagem de toxinas para a circulação portal, conhecida como disbiose intestinal. Esse desequilíbrio ocorre entre as bactérias protetoras e agressoras do nosso intestino, com a produção de efeitos nocivos no organismo através de mudanças nas suas atividades, quantidades, qualidades e distribuição no trato gastrointestinal. As causas mais frequentes da disbiose são o estresse, a fome, a presença de parasitas, o uso de antibióticos e as mudanças de altitude.

Doenças autoimunes, acne, urticária, depressão, celulite são transtornos que podem ter na disbiose um possível fator etiológico. Situações como uso de medicamentos (antibióticos principalmente), estresse, uso de laxantes, infecções, dieta inadequada, constipação intestinal, podem fazer com que haja um desequilíbrio desta população bacteriana. Os sintomas incluem desde flatulência, irritabilidade e fadiga, até alterações no ritmo intestinal (diarreia ou constipação intestinal).

A doença diarreica é caracterizada pelo aumento do volume fecal, aumento do número de evacuações ou perda da consistência das fezes e/ou evacuações líquidas. A diarreia pode ainda ser classificada de acordo com a duração do quadro: aguda, quando a duração é de 2 a 14 dias; persistente, de 15 a 30 dias; e crônica, quando superior a um mês.

As síndromes diarreicas apresentam uma gama de outras causas. A intolerância à lactose é uma das mais comuns e importantes. Apesar de uma condição benigna e muito frequente, acometendo cerca de 40% dos brasileiros adultos, pode causar sintomatologia expressiva e algumas vezes incapacitante ao paciente. A intolerância à lactose é a incapacidade de digerir lactose, um tipo de açúcar encontrado no leite e em outros produtos lácteos. Podemos nascer com tal condição (congênita) ou desenvolvê-la ao longo da vida (ontogenética). Dentre outras patogenias de diarreia no adulto, vale citar as intolerâncias a outros alimentos (como o glúten), síndrome do intestino irritável, doença celíaca, verminose, doença inflamatória intestinal, além de etiologias infecciosas, ressaltando-se as virais (enteroviroses, como o Rotavírus) e as bacterianas enteropatogênicas (como a Escherichia coli).

As diarreias agudas são em sua grande maioria autolimitadas, não havendo necessidade de tratamento específico. Usualmente, o cuidado baseia-se principalmente na hidratação e reposição de sais minerais. A alimentação tem papel fundamental neste processo, e a dieta deve ser individualizada e focada na causa do problema. Entretanto, deve-se estar atento aos sinais e sintomas de alarme, que podem ser indicativos de doenças mais graves, a citar: diarreia persistente ou crônica, disenteria (presença de sangue e/ou muco nas fezes), febre elevada e persistente, emagrecimento e dor abdominal intensa. Nestes casos, a avaliação de um médico faz-se necessária para o correto diagnóstico e início do tratamento.

Dr. Alexandre Khord Furtado